sábado, 25 de maio de 2013

400ppm CO2: Continuamos na era da estupidez



Em 2100, vão dizer que a culpa foi deles. Que eles não conseguiram frear a catástrofe. Que não se interessaram suficientemente pelo assunto. Vão lembrar, pelas fotos e Tuítes arquivados na Biblioteca do Congresso Americano, que o mundo era muito mais diversificado e que lindas cidades bordeavam os oceanos em todos os continentes.

Vão pesquisar os arquivos e tentar entender qual foi a cadeia de decisões que deixaram a concentração de carbono na atmosfera escalar, em 2013, ao nível de 400ppm e além. Vão encontrar vários culpados, mas sempre, vão perceber que a culpa era sempre dos outros.

Esta semana, ao observar as redes sociais, o alarme parece localizado entre os que estão focando no tema. Não faltaram matérias, mas faltou destaque. De todos os jornais do mundo, o que mais deu destaque foi o New York Times, que, no dia 10 de maio, publicou na capa matéria sobre o acontecimento.

Mas, de quem será mesmo a culpa? Será deles. Sempre é deles.

Dos negociadores – que não souberam quando recuar.

Dos governantes – que não tiveram coragem de sonhar.

Dos cientistas – que não souberam falar.

Dos empresários – que não quiseram parar de ganhar.

Dos pobres – que precisavam melhorar.

Dados não faltam. Fatos não mentem. Imagens comovem. A natureza fala, todos os dias conosco. Porque eles, são nós.

E no futuro, estes mesmos dados vão falar (por nós que não estaremos aqui). Estes mesmos fatos vão ser lembrados (por eles que estarão no futuro). Estas mesmas imagens vão comover (corações que vão estar batendo).

E a natureza?

A natureza vai sobreviver, vai se adaptar de uma forma ou outra. O que está em jogo não é o planeta. Este, vai mudar – ele sempre muda. O que está em jogo é a nossa civilização como a conhecemos.

Nas crises que enfrentamos, sempre cortamos na carne dos outros. No Chipre, a carne cortada foi dos desempregados. Na Grécia, a carne queimada foi dos aposentados. Na Espanha, a carne jogada fora foi a dos jovens.

Mais perto de nós, nos países emergentes, a carne é dos jovens desamparados que matam, é dos usuários de transportes públicos que se amontoam em trens, é das famílias que moram nas encostas, é dos políticos que nós mesmos elegemos.

Mas nunca cortamos o retorno de 18% anuais. E eles são nós.

Talvez incorporar no nosso imaginário 400 partes por milhão, ou 3 milhões de anos (quando foi a última alta de CO2 a este nível), seja muito difícil. São número grandes, muito grandes.

Mas, talvez, o mais difícil é incorporar no nosso imaginário como será a mudança. Trazendo para a nossa realidade, já vivemos isso antes, aqui, em São Paulo. Quando o Rio Tietê foi feito canal de esgoto, ninguém viu como ele seria no futuro. Ninguém falou nada. Hoje, temos que gastar bilhões de dólares para consertar o que fizeram.

Já vimos estes filme antes. Parece que veremos de novo.

Talvez, este texto seja só um desabafo. Pois há, a cada dia que passa, uma massa crítica querendo mudar. Vemos como cidadãos estão plantando nas cidades; como, espontaneamente, pesquisadores nas universidades estão focando no tema; como empresas estão aprovando planos de redução de emissões; como governos estão votando programas de combate ao clima.

Mas nada disso até agora ajudou. Vivemos na era da estupidez do consumo e da culpa dos outros.

Em tempo: em 2009, a Revista Sustentabilidade publicou matéria sobre o lançamento do filme A Era da Estupidez que inspirou este texto. A história de um pesquisador num bunker no Ártico sem gelo em 2055, investigando arquivos para descobrir o que aconteceu.

Abaixo um trailer do filme:



FONTE: Revista Sustentabilidade